Impressionados com as notícias de que a Província do Pará estava sendo implacavelmente atingida pelo Cólera-morbos e que, em outros pontos do País já havia esta terrível moléstia, reuniram-se na casa do Dr. José Antônio Vaz de Carvalho, chefe de polícia, várias pessoas gradas afim de tomarem as medidas necessárias a impedir que a moléstia viesse encontrar a Província desprevenida de recursos profiláticos e hospitalares. Foi nomeada uma comissão de 12 membros, da qual fazia parte o Dr. José Cândido da Silva Muricy, médico-militar residente em Curitiba, para propor os meios considerados convenientes para obstar a invasão do Cólera-morbos ou minorar seus efeitos e estragos, caso aparecesse entre nós.
A comissão foi constituída em 19 de agosto de 1855, sendo composta dos seguintes membros: Comendador MANOEL GONÇALVES DE MORAES ROSEIRA, Coronel JOAQUIM JOSÉ PINTO BANDEIRA, Major IGNÁCIO JOSÉ DE MORAES, FRANCISCO JANUÁRIO DA GAMA CERQUEIRA, Dr. AUGUSTO LOBO DE MOURA, PHELIPE SARTY, Tenente-coronel JOSÉ MUNHOZ, Major BENEDICTO ENÉAS DE PAULA, Tenente-coronel Dr. HENRIQUE DE BEAUREPAIRE ROHAN e Dr. MURICY. A 24 desse mesmo mês a comissão se desobriga de sua incumbência, apresentando suas sugestões a respeito de medidas a serem adotadas de acordo com as normas aconselhadas pela higiene e ciência médica: 1 – asseio das ruas e praças; 2 – dessecação das águas estagnadas e dos banheiros; 3 – fiscalização interna dos prédios públicos e particulares e dos quintais; 4 – fiscalização dos gêneros comestíveis; 5 – proibição dos enterramentos de cadáveres nas igrejas, devendo-se providenciar sobre a construção de cemitérios. A comissão propôs ainda que se fizesse a aquisição de botica suficientemente sortida de medicamentos e em quantidade de se fornecer à população da capital, como também do interior, solicitar ao governo geral a remessa de alguns médicos militares. Providenciou-se, também, a instalação de um Dispensário de Hanseníase (Lazareto, como eram chamados naquelas épocas) nos arrebaldes de Curitiba, para serem nele socorridos os enfermos pobres, como também, a comissão pronunciou-se sobre a criação de vários Hospitais em vários pontos da Província.
Em 16 de setembro, o Dr. Muricy apresentou ao Dr. Beaupaire, vice-presidente da província em exercício, importante relatório no qual salientou valor do trabalho elaborado pelo Dr. Paula Cândido, presidente da Comissão Sanitária e Junta Central de Higiene da Capital do Império; mostrou a também a necessidade da vinda de mais seis médicos e dois farmacêuticos, visto que na província havia lugares em que não se encontrava sequer um curandeiro, havendo absoluta falta de medicamentos, pouco adiantando, nesse caso, a presença de médicos e, sem tudo isso, não se poderia combater o Cólera-morbos, maximé, em serra acima, onde não há uma única botica, apesar de haver uma população de cerca de 40 mil habitantes já naquelas épocas. Era necessário também a vinda não só de medicamentos como também de todos os utensílios próprios ao seu preparo e manipulação, disse o Dr. Muricy.
Foram tomadas providências quanto a quarentena nos portos, e construção de um LAZARETO em Paranaguá, por ser essa cidade a principal porta de entrada do mal nesta província. Depois, apontou medidas necessárias à condução e remoção dos doentes pobres e de todos os que precisassem ser removidos para os hospitais e lazaretos. A padiola era o meio lembrado para esse serviço. Nas estradas se deveria estabelecer serviço de socorro aos viandantes (viajantes) enfermos. Propôs-se que se estabeleça o serviço de desinfecção de malas de correio e bagagens de passageiros, como também a destruição de águas estagnadas, do tanque chamado do Bittencourt, visto ela alagar os terrenos de uma grande parte da cidade. Propõe a interrupção da comunicação com o litoral; mas, por não ser justo que seus habitantes, por acaso flagelados pelo mal, fiquem privados de alimentos, julga medida proveitosa a remessa de gado em pé, para corte, e de outros gêneros de primeira necessidade. O relatório é longo, e ataca todos os requisitos de higiene, compatíveis com os precários recursos de uma província, que vinha a ser instalada. Tudo isso contribuiu para que os habitantes de Paraná, procurando se defender o mal, que parecia inevitável, tratassem de estabelecer hospitais de caridade, não só em Curitiba, como em Paranaguá e Antonina.