Hipotireoidismo e tumores podem ser confundidos com depressão e
ansiedade
Pubicado em 6 de novembro de 2013
Especialistas explicam confusões no diagnóstico de doenças que
parecem psicológicas, mas na verdade são físicas.
Segundo dados da Organização Mundial
da Saúde 50% dos casos de depressão não são diagnosticados
corretamente. E isso não ocorre apenas com essa doença, mas também
com transtornos de ansiedade, psicoses e outros problemas
psiquiátricos. E um dos motivos é que muitos problemas de origem
física podem apresentar sintomas semelhantes a essas doenças.
Justamente por isso, é função do psiquiatra fazer exames físicos em
seus pacientes: "Se a alteração comportamental é secundária a um
problema orgânico, é essa causa que tem uma prioridade de tratamento
e não seguir isso pode colocar a vida da pessoa em risco", pondera o
psiquiatra Rubens Fernandes, do Núcleo de Medicina Psicossomática e
Psiquiatria do Hospital Israelita Albert Einstein. Até porque o
problema original não é tratado e ainda o paciente se expõe aos
efeitos colaterais dos medicamentos sem necessidade.
"Então, só depois de excluir causas de doença física ou consequência
do uso de drogas que o psiquiatra vê a possibilidade dos sintomas em
conjunto corresponderem a um adoecimento mental", acrescenta o
psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro, do ProMulher do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP e diretor da Vida
Mental Serviços Médicos.
Pode parecer raro, mas são vários os
quadros físicos que podem resultar em sintomas com aspectos
psicológicos. Separamos alguns para você conhecer:
Hipotireoidismo e
hipertireoidismo
Problemas endocrinológicos
normalmente mexem não só com o nosso físico, como com a nossa mente.
E o caso mais expressivo são as alterações na tireoide: o
hipotireoidismo, em que os hormônios dessa glândula são produzidos
em menor quantidade, e o hipertireoidismo, em que eles são feitos em
maior escala. "É muito comum o primeiro quadro apresentar sintomas
depressivos e ser confundido com uma depressão. O mesmo ocorre com o
hipertireoidismo que pode levar a sintomas de ansiedade e confundir
com uma doença psiquiátrica funcional como transtorno de pânico e
transtorno de ansiedade generalizada", diferencia o psiquiatra,
Edson Shiguemi Hirata, do Hospital Santa Cruz de São Paulo. Tanto
que o normal, e indicado na Diretriz de Manejo do Hipotireoidismo, é
que todos os pacientes com depressão façam o exame para diagnosticar
seus níveis de hormônios tireoideanos, pois eles podem ter alguma
alteração inclusive subclínica, ou seja, em que não há tanta
variação nas taxas.
Concussão
Essa é uma lesão cerebral decorrente de alguma pancada ou
queda que pode alterar a função do cérebro por um tempo. Entre os
sintomas comuns após a queda estão episódios depressivos e ansiosos.
"Eles são sempre acompanhados por convulsões, intercaladas com
depressões ou alucinações", detalha o psiquiatra Rubens Fernandes,
do Núcleo de Medicina Psicossomática e Psiquiatria do Hospital
Israelita Albert Einstein. É preciso tomar cuidado, porém, pois
muitas vezes é necessário mesmo administrar medicamentos para os
sintomas psicóticos, mas eles podem piorar as convulsões. A boa
notícia, no entanto, é que a tendência é que esses sintomas só
permaneçam por um tempo após a concussão cerebral.
Excesso de cortisol
Quando o hormônio cortisol está em excesso no nosso corpo,
temos como resultado alguns sintomas comportamentais. "Isso ocorrer
porque a substância tem efeito agressivo sobre o cérebro", explica o
psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro, do ProMulher do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP e diretor da Vida
Mental Serviços Médicos. Os sinais podem ser tanto depressivos
quanto ansiosos, com excesso de energia e pensamentos grandiosos,
sintomas psicóticos, como alucinações visuais (típicas de quadros
com causas orgânicas) e quebras de realidade, e depressivos, tais
quais prostração e perda de energia.
Esse excesso de hormônio pode ocorrer tanto pelo uso de corticoides
quanto por alguma alteração física, como a doença ou síndrome de
Cushing. "Mas é mais difícil confundirmos o segundo caso, pois ele
tem sintomas físicos mais marcantes, como o ganho de peso", assinala
o especialista.
Tumores
Alguns tumores, dependendo da localização, podem também
trazer esse tipo de sintoma. É o caso principalmente dos tumores que
aparecem no sistema nervoso central: "nessas situações, o tipo de
sintoma depende muito da parte do sistema nervoso central que é
afetada e do tamanho do tumor", considera o psiquiatra Fernandes. Um
desses tipos é a doença de Cushing, em que um tumor produz hormônios
o mesmo das glândulas adrenais, causando também esse efeito no
organismo, causando sintomas relacionados à depressão.
Por outro lado, existe um tumor
chamado feocromocitoma, que ataca a glândula adrenal, e aumenta a
produção de noradrenalina. "Isso causa grande irritabilidade, e
crises ansiedade intensa que se confundem com pânico, mas esses
eventos têm como característica um aumento na pressão arterial",
diferencia o especialista.
Além disso, câncer na cabeça do pâncreas em idosos também manifestam
sinais depressivos antes mesmo dos sintomas físicos. "Normalmente
essas manifestações demoram mais tempo para aparecer, e muitas vezes
o paciente falece antes disso", alerta o psiquiatra Hewdy Lobo.
Doença de Parkinson
Antes mesmo dos típicos tremores aparecem, a doença de
Parkinson apresenta também sintomas depressivos. "Entre eles temos
dificuldades com memória, atenção e concentração, baixa estima e
alterações dos padrões de sono e apetite", relata o psiquiatra Hewdy
Lobo. Outros padrões, como a redução da expressão facial e
movimentação mais lenta também podem se confundir com a depressão
catatônica, em que há comprometimento dos movimentos. "Quase 50% dos
pacientes com Parkinson tem sintomas depressivos", ressalta Hirata.
Medicamentos
É sempre essencial que o psiquiatra se atente aos
medicamentos que o paciente toma. Já sabemos, por exemplo, que os
corticoides causam sintomas de origem psiquiátrica. "Também é
clássico que os moderadores de apetite e os medicamentos para câncer
e para hepatite com frequência levem à depressão", comenta Hirata.
Remédios usados para tratamento de hipertensão, gastrite, doenças
inflamatórias, doenças cardiovasculares, infecção, entre outros,
também podem provocar sintomas semelhantes à ansiedade e depressão.
Delirium
Muitos idosos hospitalizados têm como primeiro sintoma de
interações medicamentosas, eventos infecciosos ou desidratação, um
quadro chamado delirium. "O paciente apresenta desorientação e
dificuldade de atenção, passa a ter momentos de confusão com
intervalos lúcidos e inverte o ciclo de sono", explica o psiquiatra
Fernandes. Apesar de específico, esse é o distúrbio psiquiátrico
mais incidente em idosos que estão nos hospitais.
Infecções
Bactérias chamadas de estreptococos causam também alguns
tipos de infecções no nosso corpo que podem apresentar manifestações
comportamentais, que podem ser confundidos com transtorno obsessivo
compulsivo. "Crianças que tiveram infecção por estreptococos, como a
febre reumática, têm maior risco de apresentar sintomas obsessivos
compulsivos e tiques", comenta Hirata. Mas são quadros um pouco mais
raros.