Pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP) produziram as primeiras células-tronco embrionárias
humanas do Brasil.
Lilian Ferreira
Da redação
É o
primeiro resultado prático obtido no país desde a legalização das
pesquisas com embriões humanos, pela Lei de Biossegurança, em 2005.
Questionada na Justiça, a lei foi reconfirmada em maio deste ano
pelo Supremo Tribunal Federal.
Para obter a linhagem estável, cientistas do Instituto de
Biociências da Universidade usaram 35 embriões que estavam
congelados em clínicas de fertilização in vitro —e que foram doados
pelos genitores.
A pesquisa da USP começou em 2006 e conseguiu a primeira linhagem
células-tronco embrionárias há cerca de três meses. Somente agora,
contudo, Lygia da Veiga Pereira, líder do grupo de pesquisa, diz
poder afirmar que as células produzidas são realmente células-tronco
embrionárias.
“Observamos características mínimas que nos dão a certeza de que as
células produzidas são células-tronco embrionárias. Elas são
pluripotentes, ou seja, têm capacidade de se tornar diferentes tipos
de células. Já conseguimos que elas virem células musculares e
neurônios”, explica.
Segundo a pesquisadora, as células-tronco embrionárias foram
testadas em animais e o efeito foi muito positivo, superior ao
resultado obtido com células-tronco adultas. “A melhora em testes
para Parkinson e lesões da medula, por exemplo, é muito boa. Mas
ainda precisamos de mais resultados para fazermos testes clínicos em
humanos. O modelo animal ainda deve se manter forte aqui no Brasil”,
salienta.
Já nos Estados Unidos, Pereira aponta que o grupo Geron entrou com
pedido no FDA (Food and Drug Administration), órgão regulamentador
do país, para começar os testes clínicos em humanos. “Esse tipo de
teste ainda não foi aprovado, mas em um ano as primeiras aplicações
já devem ocorrer”, sentencia.
Para ela, a autonomia em relação a linhagens estrangeiras representa
o principal avanço para a pesquisa nacional. “Agora que conseguimos
desenvolver células-tronco embrionárias no Brasil, não dependemos
mais de células vindas de outros países para realizar nossas
pesquisas”.
“Estamos dez anos atrasados em relação ao mundo. Em 1998, surgiu a
primeira linhagem de células-tronco embrionárias nos Estados Unidos.
Mas isso não quer dizer que temos que evoluir dez anos. Já usamos as
metodologias mais modernas”, pontua a pesquisadora.
Lei de Biossegurança
A pendência quanto à legalidade da lei não impediu a pesquisa, mas
atrapalhou. “Como o governo manteve o financiamento, a pesquisa
continuou sendo desenvolvida enquanto a ilegalidade do uso de
células embrionárias era discutida. Mas isso gerava insegurança. A
pesquisadora Ana Maria Fraga teve sua bolsa negada pela Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) porque o
órgão não podia se comprometer a pagar o auxílio por cinco anos
sendo que a pesquisa poderia se tornar ilegal em pouco tempo”, diz
Pereira.