A web em 110 volts
16 de novembro de 2009 | Autor: antonini
A internet pela rede elétrica
promete até 200 Mbps de banda mesmo em lugares remotos.
Datas como Dia das Mães, Dia das Crianças e Natal eram um tormento
na Associação de Comércio Municipal de Santo Antônio da Platina, no
Paraná. Bastava uma parte dos 42 mil moradores decidir fazer compras
a prestações para a paciência da equipe ficar por um fi o. O
problema não era a média de 100 ligações diárias de consultas de
crédito, mas a lentidão da internet. Distante 370 quilômetros de
Curitiba, o município é fraco em conectividade. Apenas 2 500 pessoas
têm acesso ao serviço de banda larga prestado por uma única
operadora. Uma possível solução surgiu em março. Veio pela tomada,
com velocidades de até 10 megabits por segundo. Essa taxa de
transferência é dez vezes maior do que os atendentes da associação
estavam acostumados a usar. Junto com outros 300 moradores, eles
estão participando dos testes da Companhia Paranaense de Energia
Elétrica, a Copel, com acesso à internet pela rede elétrica.
Embora a tecnologia não seja novidade para as companhias de energia
elétrica, agora a internet pela rede elétrica (que recebe o nome de
Broadband Power Line, ou BPL) pode atingir até 200 Mbps. O percurso
dos bits pelos cabos elétricos é semelhante ao caminho na rede
telefônica. Como na tecnologia ADSL, o sinal da internet também
passa por uma espécie de modem, batizado de head-end ou master,
antes de chegar à rede de alta tensão. De lá, ele é transportado na
faixa de frequência que vai de 1,8 MHz a 38 MHz. Apesar de a energia
viajar numa onda de 60 Hz e não interferir no sinal de internet, ele
pode se enfraquecer no caminho. Para compensar a perda de potência,
é preciso usar repetidores que reforçam o sinal até a chegada às
tomadas das residências. Lá, um modem faz a ponte da internet para o
computador. Nos testes, os resultados têm agradado às pessoas. “Não
foi necessário furar paredes ou passar cabos. Só colocamos o modem
na tomada. Na hora, a internet começou a funcionar”, diz Rodrigo
Teixeira, secretário-executivo da Associação de Comércio Municipal
de Santo Antônio da Platina.
Rede abrangente
A simplicidade da instalação, aliada ao fato de que a rede elétrica
alcança 98% do território nacional, tem deixado muita gente
entusiasmada com a nova opção de acesso. “Há lugares no Brasil, como
Belém, no Pará, em que as outras redes não funcionam bem, e outros a
que elas nem chegam”, diz Thienne Johnson, pesquisadora da
Universidade de São Paulo (USP). “Essa pode ser uma alternativa
barata e com qualidade para essas regiões”, afirma ela.
Os principais passos burocráticos para que a internet por rede
elétrica seja realidade já foram superados. Depois de pelo menos
cinco anos de testes e discussões, a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) definiu, em abril, as regras para a
operação do serviço. No final de agosto foi a vez de a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentar o serviço. A
esperança é que a BPL democratize o uso doméstico da internet,
chegando aos 129 milhões de pessoas que não têm acesso à rede em
casa.
Nos Estados Unidos, a tecnologia foi autorizada em 2004. Mas só
agora empresas como a IBM apresentaram planos para alcançar as áreas
rurais. O motivo para a repentina ressurreição do interesse pela
tecnologia são os investimentos de mais de 4,5 milhões de dólares em
projetos de expansão da rede de banda larga, determinados pelo
presidente Barack Obama. A companhia International Broadband
Electric Communications (IBEC) oferece pacotes com velocidade de 256
Kbps a 3 Mbps para regiões de vazios demográficos com até três
domicílios por quilômetro quadrado. Os preços variam entre 30 e 90
dólares.
Interferência
As principais dúvidas em relação à BPL são quanto a interferência
que os aparelhos elétricos exercem sobre ela. Lâmpadas
fluorescentes, furadeiras, batederas e outros equipamentos que
consomem muita energia estão entre os vilões. Mas, de acordo com
Orlando César Oliveira, coordenador do empreendimento PLC da Copel,
a instalação de filtros nos disjuntores e tomadas da residência
reduz o problema.
Pelas regras da Anatel, antes de iniciar uma operação comercial, as
empresas devem fazer uma varredura da área para verificar se há
conflito com sistemas de radiocomunicação. “As empresas precisam
demonstrar que a BPL não está causando interferência”, afirma Marcos
de Souza Oliveira, gerente de engenharia de espectro da Anatel. Para
impedir que a BPL prejudique o sinal dos equipamentos, a prestadora
de serviço deve instalar filtros do tipo notch, que impedem a
transmissão de dados nas frequências já ocupadas por outros
sistemas.
No quesito segurança, a BPL segue os mesmos padrões impostos aos
outros sistemas. “Ela se comporta como a maioria das outras
tecnologias de acesso. A única diferença é o meio”, afirma Nicolas
Maheroudis, diretor de projetos BPL da Eletropaulo.
No Brasil, além da Copel, a Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig) e a Eletropaulo, que atende a Grande São Paulo, declararam a
intenção de oferecer o serviço. A empresa paulista planeja lançar
nos próximos meses. Cidades como Barreirinhas (MA), Goiânia (GO),
São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS) estão testando o sistema. De
acordo com os coordenadores dos testes, ainda faltam ajustes.
Espera-se que, pela rede elétrica, o acesso doméstico à internet
possa dar um salto do patamar registrado no fim de 2008, quando
estava presente em 23,8% das casas do país.
Transcrito da Revista InfoExame on line