Transmissão vertical do HIV – avaliação de oito anos
10 de junho de 2009 | Autor: antonini
O feto e o recém-nascido podem adquirir infecções causadas por
vários microorganismos como vírus, protozoários, espiroquetas e
fungos (ex. Toxoplasmose, HIV, sífilis, citomegalovirus, herpes).
Essas infecções podem ser adquiridas intra-útero, durante o parto ou
no período pós-parto. As infecções adquiridas pelo feto, por via
hematogênica transplacentária (conhecida como vertical) após
infecção materna, são denominadas infecções congênitas. Já as
infecções adquiridas no período periparto e até três semanas
pósnatais são denominadas infecções perinatais. Infecções congênitas
ou pósnatais podem ocorrer em até 10% dos nascidos vivos e mais da
metade deles são assintomáticos ao nascimento, o que torna o
diagnóstico baseado em sinais e sintomas mais difícil.
Considerando que essas infecções podem determinar sequelas futuras,
é de extrema importância a identificação precoce de gestantes
infectadas para a implementação de medidas específicas de prevenção
e tratamento, além de possibilitar o rastreamento, tratamento e
acompanhamento dos recém nascidos expostos a essas situações.
Em 1993 foi criado pelo Serviço de Infectologia Pediátrica do
Hospital de Clínicas o ambulatório de infecções congênitas. O
objetivo inicial desse ambulatório era o atendimento de bebês
nascidos na maternidade do HC com suspeita de alguma infecção
congênita. Com o passar dos anos o ambulatório foi ampliado e passou
a prestar atendimento aos bebês do programa Mãe Curitibana, da
Região Metropolitana de Curitiba além de outras localidades.
Atualmente, o Ambulatório de Infecções Congênitas, localizado no
Setor de Pediatria Preventiva do Departamento de Pediatria, é o
único ambulatório no Estado do Paraná que presta assistência
exclusiva a bebês com exposição a esses tipos de agravos.
As situações mais frequentemente atendidas são bebês expostos à
infecção materna pelo HIV, sífilis e toxoplasmose. Levantamento
preliminar revela que entre os anos 2000 e 2007 foram acompanhadas
aproximadamente 1595 crianças, sendo 54,4% expostas ao HIV, 32,3%
expostas à toxoplasmose e 13,3% expostas à sífilis. A maior parte
desses pacientes e era procedente de Curitiba (63,4%) e região
metropolitana (27,6%).
Vale destacar os resultados observados em relação à transmissão
vertical do HIV, situação responsável pelo maior número de
atendimentos. Nesses oito anos avaliados, foram atendidos 867 bebês
cujas mães eram infectados pelo HIV. A taxa de transmissão vertical
entre as 757 crianças que concluíram a investigação, variou de 3,5%
encontrada no ano de 2005 a 18,9% e 2001, com uma taxa geral de
10,7%, ou seja, 81 crianças infectadas.
De acordo com a literatura, com a utilização de medidas de
prevenção, como acompanhamento pré-natal, uso de antirretrovirais
pelas gestantes infectadas e recém-nascidos expostos, assistência
durante o parto e acompanhamento dos recém-nascidos, pode-se
conseguir taxas de transmissão vertical do HIV de 1 a 2%.
Assim, observa-se que as taxas de transmissão vertical do HIV na
população avaliada encontram-se acima do esperado. Diversos fatores
são identificados como possíveis responsáveis pela elevada
transmissão encontrada, como a não realização de pré-natal, não
utilização adequada de antirretrovirais além do uso de drogas
ilícitas.
A compreensão desses fatos permite que as equipes assistenciais
elaborem estratégias que possam atingir e captar as gestantes
infectadas pelo HIV mais vulneráveis, para que todas as etapas de
prevenção sejam utilizadas e que um número cada vez maior de bebês
expostos a esse agravo nasçam saudáveis.
O serviço de epidemiologia hospitalar do hospital de clínicas da
universidade federal do Paraná investiga todos os casos num trabalho
conjunto com o serviço de infectologista pediátrica e o ambulatório
da maternidade que acompanha gestantes HIV, dentro do programa mãe
Curitibana.
O ambulatório de infecções congênitas é realizado no SAM 11,
pediatria preventiva, nas segundas e sextas-feiras das 13 às 17
horas.
Professora doutora Cristina Rodrigues da Cruz, departamento de
pediatria e coordenadora do ambulatório.