Por
Tara Parker-Pope
Na jornada por uma saúde melhor, muitas pessoas se voltam a médicos,
livros de autoajuda ou suplementos de ervas. Porém, elas ignoram uma
poderosa arma capaz de ajudá-las a combater doenças e a depressão,
acelerar a recuperação, retardar o envelhecimento, e prolongar a vida:
seus amigos.
Recentemente, pesquisadores estão começando a prestar atenção na
importância da amizade e das redes sociais para a saúde em geral. Um
estudo australiano de 10 anos descobriu que pessoas mais velhas com um
grande círculo de amigos tinham uma chance 22% menor de morrer durante o
período do estudo, em relação àqueles com menos amigos. Um grande estudo
de 2007 mostrou um aumento de quase 60% no risco de obesidade entre
pessoas cujos amigos ganhavam peso. No ano passado, pesquisadores de
Harvard relataram que laços sociais fortes poderiam promover saúde
cerebral conforme envelhecemos.
“No geral, o papel da amizade em nossas vidas não é terrivelmente bem
apreciado”, disse Rebecca G. Adams, professora de sociologia da
Universidade da Carolina do Sul, em Greensboro. “Há várias expectativas
em famílias e no casamento, mas muito pouco na amizade. A amizade tem um
impacto mais forte em nosso bem-estar psicológico do que as relações
familiares”.
Em um novo livro, “The Girls From Ames: A Story of Women and a 40-Year
Friendship” (Gotham), Jeffrey Zaslow conta a história de 11 amigas de
infância que se espalharam do Iowa para oito estados distintos. Apesar
da distância, a amizade entre elas sobreviveu à faculdade, ao casamento,
ao divórcio, e a outras crises, incluindo a morte de uma das mulheres
antes dos 30 anos.
Usando livros de anotações, álbuns de fotos e as memórias das próprias
mulheres, Zaslow narra como a amizade moldou suas vidas e continua a
sustentá-las. O papel da amizade na saúde e no bem-estar é evidente em
praticamente todos os capítulos.
Duas das amigas souberam recentemente ter câncer de mama. Kelly
Zwagerman, hoje uma professora de colegial moradora da cidade de
Northfield, Minnesota, disse que ao receber seu diagnóstico, em 2007,
seu médico lhe disse para cercar-se com suas pessoas mais amadas. Ao
invés disso, ela buscou suas amigas de infância, embora elas morassem
longe.
“As primeiras pessoas a quem contei foram as mulheres de Ames”, disse
ela numa entrevista. “Mandei um e-mail para elas. Imediatamente recebi
e-mails e telefonemas e mensagens de apoio. Era muito claro que o amor
porejava de todas elas”.
Quando ela reclamou que seu tratamento causava muitas dores na garganta,
uma menina de Ames lhe enviou um liquidificador e receitas. Outra, que
havia perdido uma filha para a leucemia, enviou a Zwagerman um chapéu
tricotado a mão, sabendo que sua cabeça ficaria fria sem cabelos; outra
enviou pijamas feitos de tecido especial para ajudar a lidar com os
suores noturnos.
Zwagerman disse que muitas vezes se sentia mais confortável discutindo
sua condição com as amigas do que com seu médico. “Nós temos tantas
histórias juntas que essas mulheres falam de qualquer coisa”, disse ela.
Kelly disse ainda que suas amigas de Ames tinham sido fator essencial em
seu tratamento e recuperação, e pesquisas sustentam essa percepção. Em
2006, um estudo com quase 3.000 enfermeiras com câncer de mama descobriu
que mulheres sem amigos próximos tinham uma probabilidade quatro vezes
maior de morrer da doença do que as mulheres com dez ou mais amigos. E
notavelmente, a proximidade e a quantidade de contato com um amigo não
foram associadas à sobrevivência. Simplesmente ter amigos já era algo
protetor.
Bella DePaulo, professora visitante de psicologia na Universidade da
Califórnia, em Santa Barbara, cujo trabalho foca pessoas solteiras e
amizades, aponta que, em muitos estudos, a amizade tem um efeito ainda
maior sobre a saúde do que um cônjuge ou membro da família. Na pesquisa
das enfermeiras com câncer de mama, ter um cônjuge não foi associado à
sobrevivência.
Enquanto muitos estudos sobre a amizade focam nos intensos
relacionamentos entre mulheres, algumas pesquisas mostram que os homens
também podem se beneficiar. Em um desses, realizado num período de seis
anos com 736 homens suecos de meia-idade, a ligação com uma única pessoa
não parecia afetar o risco de ataques cardíacos e doenças coronárias,
mas ter amigos, sim. Apenas o cigarro era um fator de risco tão
importante quanto a falta de suporte social.
O motivo exato pelo qual a amizade tem um efeito tão grande não está
inteiramente claro. Enquanto amigos podem assumir pequenas
responsabilidades e buscar remédios para uma pessoa doente, os
benefícios vão muito além da assistência física; na verdade, a
proximidade não parece ser um fator.
Pode ser que pessoas com fortes laços sociais tenham, também, melhor
acesso a serviços e atendimento de saúde. Além disso, entretanto, a
amizade claramente possui um profundo efeito psicológico. Pessoas com
amizades fortes apresentam menor probabilidade de contrair resfriados,
talvez por terem níveis mais baixos de estresse.
No ano passado, pesquisadores acompanharam 34 estudantes da Universidade
da Virginia, levando-os à base de uma colina bastante íngreme e
equipando-os com pesadas mochilas. Em seguida pediram que os estudantes
avaliassem o grau de declive. Alguns participantes ficaram ao lado de
amigos durante o exercício, enquanto outros ficaram sozinhos.
Os estudantes que estavam com amigos deram estimativas mais baixas do
grau de inclinação da colina e, quanto mais tempo de amizade os
participantes tivessem entre si, menos íngreme ela parecia.
“Pessoas com redes de amizades mais fortes se sentem como se houvesse
ali alguém para ajudá-las”, disse Karen A. Roberto, diretora do centro
de gerontologia da Virginia Tech. “A amizade é um recurso subestimado. A
mensagem consistente desses estudos é que amigos tornam sua vida
melhor”.