10 de dezembro de 2008 | Autor: antonini
Do gengibre ao barbante queimado, qual a receita contra dor de
cabeça que funciona? Se não fosse um personagem que aparece nesta
matéria, ela até poderia ser séria. Alguém aí conhece um
naturopauta? Que profissional é esse? Qual a sua formação, sua
capacitação e, sobretudo, a sua autoridade para discorrer sobre um
tema tão delicado e relevante. Apenas esse detalhe já coloca a
matéria em descrédito, mas leia o contúdo na íntegra e tire suas
próprias conclusões
Todo mundo tem
uma receita caseira contra a dor de cabeça. Cheirar barbante
queimado, tomar café e fazer compressas com batata crua na testa são
apenas alguns conselhos ouvidos por quem sofre desse mal – nada
menos que nove entre dez pessoas.
Justamente por ser um problema tão comum, a automedicação é adotada
em 50% dos casos, o que justifica a opção por remédios caseiros que,
segundo os especialistas, às vezes funcionam por auto-sugestão, o
chamado “efeito placebo”. Por outro lado, há quem consuma até dez
analgésicos por dia para combater a dor, o que é alarmante.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cefaléia (nome
científico da dor de cabeça) está na lista das dez patologias mais
incapacitantes que existem.
Existem mais de 150 tipos diferentes de dores de cabeça, que se
dividem entre primárias (relacionadas a distúrbios bioquímicos
cerebrais ou mal funcionamento de neurotransmissores e receptores,
cujo exemplo é a enxaqueca e dor de cabeça tensional), e secundárias
(sinalizam a existência de problemas em alguma região do corpo, como
tumores cerebrais, meningites, aneurismas ou resfriados).
Alimentos
Para o naturopata italiano Luca Avoledo, especialista em ciências
naturais e nutrição, quando a cefaléia é recorrente, ela também pode
estar relacionada a uma sobrecarga alimentar que precisa ser
controlada. O excesso faz o organismo reagir com processos
inflamatórios, que se manifestam por meio da dor de cabeça.
Nesses casos, diz Avoledo, “a melhor estratégia é manter-se longe de
certos alimentos ricos em histamina, como queijos fermentados,
salames, bebidas alcoólicas, peixes (especialmente os gordurosos) e
tomate”. Ele também recomenda que se evite chocolate, morango, carne
de porco, castanhas e sementes oleaginosas (como de linhaça,
girassol, gergelim e abóbora) porque estimulam a liberação da
substância no organismo.
De acordo com o especialista, algumas pessoas são hipersensíveis a
determinados alimentos. Nesses casos, só um teste de intolerância
alimentar pode identificar os itens que devem ser banidos ou
consumidos com parcimônia.
O naturopauta
também afirma que alguns alimentos podem ajudar na prevenção dos
sintomas, como a pimenta, que possui um componente chamado
capsaicina, com função analgésica. O gengibre e o cúrcuma (raiz da
família do gengibre e componente do curry) destacam-se por serem
inibidores de várias moléculas pró-inflamatórias. Outra planta muito
utilizada para as cefaléias, ele lembra, é o tanaceto (Tanacetum
parthenium).
Terapia convencional
O neurologista Mário Peres, de São Paulo, concorda com Avoledo sobre
a importância dos cuidados com a alimentação e acrescenta à lista do
naturopata outros possíveis desencadeadores de dor de cabeça:
adoçantes, condimentos, frutas cítricas e alimentos gordurosos.
O médico ressalta que jejuar também é um fator que deflagra a
cefaléia e, por isso, sugere que os pacientes evitem longos períodos
sem comer e refeições muito fartas. “Esses cuidados dificilmente vão
curar a dor, mas são úteis para não agravá-la”.
Já o neurologista carioca Abouch Valenty Krymchantowski é cético em
relação ao uso de produtos naturais ou terapias como a homeopatia,
exceção feita à acupuntura que, em caráter regular e preventivo,
traz resultados satisfatórios, na opinião do médico.
O tratamento mais usual para as dores de cabeça freqüentes, descreve
ele, é o uso de drogas que modulam a comunicação entre os neurônios,
como o topiramato e o divalproato de sódio, combinadas com baixas
doses de antidepressivos.
Indagado sobre a relação entre alimentos e dor de cabeça,
Krymchantowski relata que apenas 25% dos pacientes têm crises devido
à dieta e, segundo ele, a questão é supervalorizada. Mas ele faz uma
ressalva: “Se o paciente apresenta crises consistentes após a
ingestão de determinado alimento, a restrição é indicada até que as
drogas usadas funcionem, o que pode levar de três a cinco semanas”.
O médico relata que há indícios de que alimentos ricos em triptofano
(aminoácido existente em folhas verdes e nozes) e magnésio
(crustáceos) possam ser úteis para prevenir crises, mas muitos de
seus pacientes “se empanturram disso e não melhoram antes do
tratamento medicamentoso”.
Para o neurologista, só o efeito placebo pode explicar o sucesso de
medidas como comer gengibre. “Embora um especialista jamais receite
um placebo, numa situação de emergência, se ao invés de injetar uma
droga na veia, injetássemos água destilada, 30% dos pacientes iriam
melhorar”, aposta.