Cremes não evitam envelhecimento
15 de novembro de 2008 | Autor: antonini
Tem gente que acredita em contos de fada, papai-noel, duende… Para
esses a pedra filosofal e o elixir da longa vida existem e,
portanto, nada do que se escreva contra os cremes rejuvenecedores
será levado a sério. Não é necessário um dermatologista para dizer
se funcionam ou não e qual o creme que deve ser usado. Basta apenas
o velho e tão esquecido bom-senso.
Por: Carmen Girona
A pele é a parte mais maltratada do corpo. Maltratada por excesso
de cosméticos, por agressões químicas e pelos excessos de radiação
solar a que nos expomos, paradoxalmente, perseguindo a beleza e a
juventude. O resultado é um envelhecimento precoce que logo se
tenta combater com cremes. Às vezes são anunciadas fórmulas
milagrosas que prometem manter a pele jovem e firme. São realmente
eficazes ou apenas produtos prazerosos?
A utilidade dos cremes cosméticos é um tema muito controvertido no
qual confluem importantes interesses econômicos, campanhas
publicitárias agressivas e o prazer do consumidor ao adquirir
produtos que supostamente rejuvenescem. Mas neste caso ciência e
cosmética não andam de mãos dadas, e embora os cremes básicos dêem
luminosidade e mantenham a pele saudável em bom estado nem estes
nem os que contêm outras substâncias rejuvenescedoras evitam o
envelhecimento da pele. A proteção solar é o único fator da
cosmética que influi diretamente no processo de envelhecimento.
“A pele tem uma capacidade de equilíbrio espontânea
extraordinária. A partir da puberdade, fabrica uma película
hidrolipídica que a protege das agressões externas. E se não for
eliminado esse manto benfeitor pelo uso de sabonetes, cremes para
maquiar, demaquiar, não há necessidade de cremes”, afirma Ramón
Grimalt, professor da Universidade de Barcelona e dermatologista
do Hospital Clínic de Barcelona. “Há muitos exemplos disso. Todos
conhecemos pessoas que por sua natureza têm uma pele fantástica e
avós octogenárias com aspecto invejável, que nunca usaram um
creme.” Peles muito bem conservadas como a de Dolores Martínez,
que vive em Granollers, tem 93 anos e nunca usou cremes
cosméticos. “Também vemos isso nos homens, que envelhecem na mesma
velocidade que as mulheres e na maioria dos casos nunca utilizaram
qualquer cosmético”, acrescenta Grimalt.
Círculo vicioso
Os cremes hidratantes atuam como uma barreira de proteção contra
as agressões externas quando se perde a capa natural. Mas se forem
utilizados quando não são necessários essa pele normal pode se
transformar em gordurosa, que seria preciso tratar com outro
cosmético. O desconhecimento dos usuários, de um lado, e os novos
hábitos de higiene da sociedade moderna, alguns deles introduzidos
pela indústria cosmética com fins meramente comerciais, por outro,
conduzem a uma má utilização desses produtos.
“É um jogo em que primeiro se vende o gel que deixa a pele seca e
depois o creme para hidratá-la. Essa tática também foi introduzida
na higiene infantil. A pele da criança não produz gordura e só
deveria ser ensaboada ao redor do ânus e as mãos, quando estão
sujas. Os adultos também não deveriam ensaboar as pernas e os
braços, porque o suor nessas áreas não é gorduroso e se elimina
com água”, afirma Grimalt, que também é presidente honorário da
Sociedade Européia de Dermatologia Pediátrica.
A má utilização leva ao desastre, mas também há especialistas que
defendem os cosméticos, desde que utilizados adequadamente. Aurora
Guerra, chefe da seção de dermatologia do Hospital Universitário
12 de Outubro de Madri e presidente da Seção Centro da Academia
Espanhola de Dermatologia e Venereologia (AEDV), concorda que os
cosméticos não podem tratar o envelhecimento da pele, mas defende
sua utilidade, como declarou no Congresso Nacional da AEDV,
realizado em meados de junho em Barcelona.
“Os cosméticos”, afirma, “conseguem mais luminosidade, mais
firmeza, diminuem a intensidade das rugas e alguns deles fazem
desaparecer defeitos como as manchas produzidas pelo sol ou pela
idade. Os cremes não podem tratar o envelhecimento, mas ajudam. É
verdade que não se pode ter 20 anos aos 50, mas sim os melhores
50”, afirma Guerra.
Em relação às moléculas rejuvenescedoras que são acrescentadas aos
cremes básicos, embora tenham demonstrado certa melhora na pele,
comprovada com testes objetivos (por exemplo, medidas do relevo
cutâneo com molde de silicone ou medidas do tempo de reposição
epidérmica através de corante ou grau de hidratação), não
superaram os severos critérios de avaliação da medicina baseada na
evidência.
“Até agora não existe nenhum estudo científico independente que
tenha constatado a eficácia de qualquer das substâncias modernas
rejuvenescedoras. Se aplicar em uma face qualquer das substâncias
que pretendem ter alguma função e na outra se colocar
exclusivamente uma mistura de azeite com água, que o que é um
creme, na realidade, ao fim de seis meses não há nenhum aparelho
em nenhuma universidade do mundo que permita diferenciar qual das
duas faces foi tratada com substâncias rejuvenescedoras.”
Existem diversos estudos que confirmam isso. Um dos mais recentes
foi apresentado no congresso da Academia Americana de Dermatologia
realizado em San Francisco em 2007, salienta Grimalt.
Consulta dermatológica
Diante dos dados, dos costumes adquiridos e da ampla gama de
cosméticos, o dermatologista é quem pode avaliar melhor se a pele
está saudável, se há algum defeito a corrigir e que tipo de
produto pode ser benéfico, sempre em função da idade, do estado da
pele, dos antecedentes familiares e da dieta praticada. “Às vezes
é preferível gastar dinheiro em uma consulta com o dermatologista
do que continuar testando produtos que podem ser desnecessários ou
mesmo prejudiciais. Não se trata de engordurar a pele, mas de
aconselhar e utilizar o que for necessário em cada caso”, adverte
Guerra.
A percepção de utilidade ou não dos cremes cosméticos depende em
boa parte do que se espera deles. Muitas vezes o que se encontra é
satisfação, assim como ao comprar uma roupa de marca ou um carro
de primeira linha. Mas não as pessoas não devem se enganar. Se
quiserem envelhecer devagar, segundo os especialistas, o melhor
cosmético é não maltratar a pele e protegê-la da exposição ao sol.
E ter consciência, como salienta Ricardo Ruiz, diretor da Clínica
Dermatológica Internacional e chefe da unidade da Clínica Ruber de
Madri, de que “um creme jamais proporcionará o mesmo efeito que
uma cirurgia ou uma técnica de rejuvenescimento”.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves