O casamento
25 de agosto de 2010 | Autor: antonini
Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua
mão e disse: “Tenho algo importante para te dizer”. Ela se sentou e
jantou sem dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.
De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que
dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o
assunto calmamente.
Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente
perguntou em voz baixa: “Por quê?”
Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava. Ela jogou os
talheres longe e gritou “você não é homem!” Naquela noite, nós não
conversamos mais. Pude ouví-la chorando. Eu sabia que ela queria um
motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta
satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela
mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais, sentia
pena dela. Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de
divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da
minha empresa.
Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher
com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim.
Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia mas eu não
voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente.
Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era
esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha
obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se
materializava e o fim estava mais perto agora.
No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na
mesa escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi
imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a
Jane.
Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa,
escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.
Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria
nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela
pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos
de forma mais natural possivel. As suas razões eram simples: o nosso
filho faria seus examos no próximo mês e precisava de um ambiente
propício para prepar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o
rompimento de seus pais.
Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me
lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa
no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias
eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi
que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não
tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.
Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito
e achou a idéia totalmente absurda. “Ela pensa que impondo condições
assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e
aceitar o divórcio” ,disse Jane em tom de gozação.
Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito
tempo, então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro
dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo “O
papai está carregando a mamãe no colo!” Suas palavras me causaram
constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de
entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando
minha esposa no colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho “Não
conte para o nosso filho sobre o divórcio” Eu balancei a cabeça
mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos
a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ônibus para o trabalho e
eu dirigi para o escritório.
No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu
peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi
que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela
certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no
seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso
casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a
pensar no que havia feito para ela estar neste estado.
No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade
maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida
dela a mim.
No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a
cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa.
Talvez meus músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.
Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela
experimentou uma série deles mas não conseguia achar um que
servisse. Com um suspiro, ela disse “Todos os meus vestidos estão
grandes para mim”. Eu então percebi que ela realmente havia
emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos
dias.
A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso… ela carrega
tanta dor e tristeza em seu coração….. Instintivamente, eu estiquei
o braço e toquei seus cabelos.
Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse “Pai, está na
hora de você carregar a mamãe”. Para ele, ver seu pai carregando sua
mão todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa
abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos
segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora
que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em
meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada
da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra
o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.
Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu
a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover
minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi
pronunciando estas palavras: “Eu não percebi o quanto perdemos a
nossa intimidade com o tempo”.
Eu não consegui dirigir para o trabalho…. fui até o meu novo futuro
endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia.
Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu
disse a ela “Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar”.
Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa “Você está
com febre?” Eu tirei sua mão da minha testa e repeti “Desculpe,
Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós
não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por
falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei
minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo
segurá-la até que a morte nos separe.
A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu
a porta na minha cara e pude ouví-la chorando compulsivamente. Eu
voltei para o carro e fui trabalhar.
Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um
buquê de rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu
gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: “Eu te
carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos
separe”.
Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão
e um grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde
encontrei minha esposa deitada na cama – morta. Minha esposa estava
com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito
ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com ela. Ela
sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de
um divórcio – e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao
nosso filho a imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos
olhos do meu filho, eu sou um marido carinhoso.
Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num
relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro
no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não
proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser
amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para
mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!
Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que
estavam tão perto do sucesso e preferiram desistir…