Respeito à Farmácia
21 de fevereiro de 2010 |
Autor: antonini
A população brasileira deve receber como uma vitória a entrada em
vigor, quinta-feira, das regras da Resolução 44/2009, da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que instituem Boas
Práticas Farmacêuticas para farmácias e drogarias. Mais que isso, a
população precisa somar esforços no sentido de defender o
cumprimento da nova norma, cobrando o seu direito de ter acesso a
produtos e serviços farmacêuticos com qualidade. Afinal, é ela – a
população – a grande beneficiária da resolução.
Considerada a mais completa e avançada norma emanada da Anvisa,
tratando do contexto farmacêutico, a resolução traz regras que vão
dar início ao necessário processo de mudança do atual modelo
farmacêutico que, ao longo dos anos, foi sendo minado pelo interesse
econômico responsável por transformar as farmácias e drogarias em
estabelecimentos comerciais em detrimento dos interesses de saúde.
Diria até mais: fez das farmácias mercearias onde o medicamento foi
rebaixado à qualidade de mercadoria.
As novas regras da Anvisa buscam resgatar o sentido de saúde que
deve prevalecer nos estabelecimentos farmacêuticos, e podem ser
entendidas, também, como uma declaração de reconhecimento da
importância dos serviços farmacêuticos pelo Estado brasileiro.
Tanto que a norma reconhece que a orientação prestada à população
pelos farmacêuticos é parte essencial do uso correto do medicamento
que levará ao tratamento desejável, à recuperação da saúde e à cura
da doença. Na Resolução 44/09, a Anvisa inclusive autoriza os
farmacêuticos a atuar no âmbito da atenção primária, e define como
direito do cidadão o acesso à orientação farmacêutica.
Alguns pontos ilustram bem o grande alcance sanitário – e social –
da resolução, a começar do fato de ela definir os serviços e os
produtos que podem ser oferecidos em farmácias e drogarias, e
determinar que os medicamentos isentos de prescrição, como
analgésicos e antitérmicos, não podem mais ficar ao alcance dos
usuários e, sim, atrás do balcão, para que sejam solicitados ao
farmacêutico e recebidos com orientação.
Farmácias não poderiam mesmo continuar a vender bebidas, bombons,
sorvetes, rações para cachorro, sandálias, pilhas, porque não são
mercadinhos. Precisam ser respeitadas em sua índole, que é a de
oferecer à sociedade serviços e produtos de saúde, e jamais debandar
para o mercantilismo que avilta a sua natureza. Esse mesmo
mercantilismo que busca seduzir o paciente incauto com propagandas
do tipo “pague dois e leve três”.
Quanto a tirar os medicamentos do alcance dos usuários, é uma forma
de dificultar o consumo desmedido e promover o uso racional de
medicamentos. O uso descontrolado desses produtos é uma verdadeira
praga que tem gerado problemas de toda natureza e abarrotado os
hospitais de pacientes com intoxicações graves – muitas letais –,
mas evitáveis.
Proprietários de farmácia e as organizações do empresariado do setor
devem aceitar a Resolução 44/09, em vez de lutar contra ela. Melhor
que enfrentá-la, na Justiça, por meio de liminares, é adaptar-se a
ela. Afinal, o Brasil não pode perder a chance de dar um passo
histórico à frente e avançar para uma fase mais evoluída, em que
farmácias e drogarias sejam verdadeiramente estabelecimentos de
saúde.
De acordo com a Anvisa, o descumprimento da resolução configura
infração à legislação sanitária federal, estando o estabelecimento
sujeito ao pagamento de multas cujo valor pode variar de R$ 2 mil a
R$ 1,5 milhão. As penalidades incluem ainda apreensão ou interdição
de mercadorias e até o cancelamento do alvará de funcionamento do
estabelecimento, sem prejuízo das responsabilidades civil e penal
cabíveis.
Dirijo, aqui, a minha mais veemente crítica aos que afirmam – e este
é o argumento recorrente nas liminares – que os medicamentos não
podem ser retirados das gôndolas aos quais os consumidores têm
acesso, porque estes têm o direito de decidir e escolher o
medicamento de que precisam. Ora! Baseado em que informações
farmacológicas, farmacocinéticas, fisiológicas, fisiopatológicas os
usuários podem, sozinhos, escolher qual é o melhor medicamento?
Trata-se de uma falácia irresponsável. Quem tem esses conhecimentos
é o farmacêutico, e ele está, na farmácia para orientar o usuário e
para ser um agente fortalecedor da política do uso racional de
medicamentos.
Dr. Jaldo de Souza Santos é presidente do Conselho Federal de
Farmácia presidencia@cff.org.br