Alerta: Vacina reduz infecção em pulmão e cérebro, mas pode trazer complicações

10 de fevereiro de 2010 | Autor: antonini

Uma vacina apresentada em 2000 tem sido altamente eficaz em reduzir o número de infecções graves nos pulmões, no sangue e no cérebro de bebês e crianças. Ao mesmo tempo, porém, uma complicação séria e algumas vezes fatal se tornou mais comum.

Pesquisadores relatam que a ocorrência da complicação, o empiema pneumocócito – acúmulo de pus entre a superfície externa do pulmão e a parede torácica – aumentou depois que a vacina entrou em amplo uso. O material infectado é tão denso que chega a interferir na respiração; muitas vezes, é necessário operar.

Antes de a vacina chamada PCV7 ser disponibilizada, a doença pneumocócica causava, somente nos Estados Unidos, mais de 700 casos anuais de meningite em crianças, 13 mil infecções sanguíneas, cerca de 5 milhões de infecções no ouvido e 200 mortes. Crianças abaixo dos 2 anos sofrem os maiores riscos de contrair a doença grave, que pode ser difícil de tratar, pois alguns subgrupos do pneumococo se tornaram resistentes a medicamentos.

Pesquisadores, usando informações de dados de liberação em hospitais, descobriram que, enquanto o número de crianças com a doença pneumocócica havia diminuído drasticamente, as que eram hospitalizadas tinham mais chances de ficar doentes a ponto de precisar de cirurgia. A análise aparece na edição de janeiro da publicação “Pediatrics”.

Um motivo, segundo os cientistas, é que outros subgrupos de pneumococo tenham surgido sem concorrência dos sete cobertos pela vacina. Su-Ting T. Li, principal autora do estudo, afirmou que a evolução de novos subgrupos da doença também poderiam ser um problema.

Li, professora assistente de pediatria da Universidade da Califórnia, em Davis, disse que a vacina PCV7 era inquestionavelmente eficiente. “A vacinação está contribuindo para reduzir a incidência de pneumonia bacteriana, septicemia e meningite”, disse ela, referindo-se a infecções no pulmão, sangue e cérebro. “Mas ela não está reduzindo a incidência do empiema.” Em comparação com o ano de 1997, ela descobriu, crianças hospitalizadas com infecções por pneumococo em 2006 apresentavam duas vezes mais chances de ter empiema.

As vacinas pneumocócicas para adultos estão disponíveis há mais de 30 anos, mas até a introdução da PCV7 nenhuma funcionaria em crianças abaixo dos 2 anos de idade. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças hoje recomenda a vacina para todas as crianças abaixo de 5 anos.

Os pesquisadores chegaram a tal conclusão analisando o Banco de Dados de Crianças Internadas, uma amostra representativa de internações hospitalares para crianças. Em 2006, cerca de 2.898 crianças com menos de 18 anos foram hospitalizadas com empiema. A maioria tinha menos de 5 anos e, por razões desconhecidas, o maior aumento ocorreu em crianças entre 2 e 4 anos. A ocorrência geral de empiema em 2006 foi de 3,7 por cem mil crianças, contra 2,2 por cem mil em 1997 – um aumento de quase 70%.

DADOS – Catherine A. Lexau, epidemiologista do Departamento de Saúde de Minnesota, mencionou alguns dos defeitos do estudo. Dados de alta podem não ser precisos, segundo ela, e o estudo tem menos descobertas para os organismos específicos que causavam a pneumonia ou o empiema.

A crítica é válida, pois outros organismos, além do pneumococo, podem causar o empiema, e o banco de dados usado pelos pesquisadores não identifica consistentemente quais germes estavam envolvidos.

Porém, analisando somente os casos que especificavam a doença do pneumococo, pesquisadores descobriram que as crianças tinham menos chances de ser hospitalizadas antes do advento da vacina – mas com muito mais chances de contrair empiema como uma complicação.

Outros pesquisadores consideraram o trabalho valioso e persuasivo.

Carrie L. Byington, professora de pediatria na Universidade de Utah, disse que a ampla amostra nacional deu força à pesquisa e que as descobertas eram consistentes com estudos regionais de menor porte. Ela também apontou que a doença do pneumococo era um problema global, muito pior em outros países do que nos Estados Unidos.

Mesmo a PVC7 eliminando a doença causada pelos sete subgrupos (os quais foi feita para combater), existem mais de 80 outros subgrupos de pneumococo. Isso pode mudar em breve, segundo Byington: uma nova vacina, já aprovada na Europa e atualmente sendo analisada pela FDA (agência que regulamenta a venda de remédios e alimentos nos Estados Unidos), cobrirá seis outros subgrupos do pneumococo – incluindo os suspeitos de causar a doença mais séria.

Fonte: Folha de S. Paulo


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