No antigo Egito, acreditava-se que a elaborada maquiagem dos olhos usada pela rainha Nefertiti e outras mulheres tivesse poderes de cura, invocando a proteção dos deuses Hórus e Ra, além de evitar doenças.
do New York Times
No antigo Egito, acreditava-se que a elaborada maquiagem dos olhos usada pela rainha Nefertiti e outras mulheres tivesse poderes de cura, invocando a proteção dos deuses Hórus e Ra, além de evitar doenças.
A ciência não aceita a mágica, mas considera os cosméticos de cura. A maquiagem à base de chumbo usada pelos egípcios possuía propriedades antibacterianas que ajudavam a evitar infecções comuns na época, de acordo com um relatório publicado neste mês no “Analytical Chemistry”, uma publicação da Sociedade Americana de Química.
“Isso é intrigante; eles foram capazes de construir uma forte e rica sociedade, então não eram completamente loucos”, disse Christian Amatore, químico da Ecole Normale Superieure, em Paris, e um dos autores do artigo. Porém, eles acreditavam que essa maquiagem podia curar –entoavam cânticos enquanto faziam a mistura com coisas que hoje chamamos de lixo.
Amatore e seus colegas pesquisadores usaram microscopia de elétrons e difração de raios-X para analisar 52 amostras retiradas de estojos de maquiagem egípcia preservados no Louvre.
Eles descobriram que a maquiagem era feita fundamentalmente pela mistura de compostos químicos à base de chumbo: galena, que produzia tons escuros e brilhantes, e os materiais brancos cerussita, laurionita e fosgenita.
Como as amostras haviam se desintegrado ao longo dos séculos, os pesquisadores não puderam determinar a porcentagem de chumbo na maquiagem.
Embora muitos textos escritos, pinturas e estátuas do período indiquem que a maquiagem era amplamente usada, os egípcios a viam como algo mágico e não medicinal, disse Amatore.
Infecções
No antigo Egito, na época em que o Nilo transbordava, os egípcios sofriam com infecções causadas por partículas que entravam no olho e traziam doenças e inflamações.
Os cientistas argumentam que a maquiagem com chumbo agia como uma toxina, matando as bactérias antes que se disseminassem.
Porém, embora sua pesquisa proporcione uma fascinante percepção de uma antiga cultura, os cientistas afirmam que a maquiagem não deve ser usada todos os dias.
Amatore explicou que a intoxicação dos compostos de chumbo ofuscava seus benefícios e que existem muitos casos documentados de envenenamento como resultado do uso do chumbo em pinturas e soldagens no século 20.
Neal Langerman, físico-químico e presidente da Advanced Chemical Safety, uma empresa de consultoria de segurança na saúde e proteção ambiental, afirmou: “Você não deve fazer isso em casa, especialmente se tiver criança pequena ou um cachorro que gosta de lambê-lo”.
Beleza e perigo
Mesmo assim, segundo Langerman, faz sentido que os egípcios fossem atraídos pelos compostos.
“Chumbo e arsênico, entre outros metais, fazem lindos pigmentos de cor”, disse ele. “Como eles criam cores atraentes e você pode transformá-los em pó, faz muito sentido usá-los como corantes de pele”.
A questão do chumbo na maquiagem continua a ser debatida na indústria de cosméticos, particularmente em relação às pequenas quantidades de chumbo encontradas em alguns batons.
Embora alguns grupos e médicos argumentem que, com o tempo, usuários de batom podem absorver níveis de chumbo capazes de resultar em problemas de comportamento, a FDA –agência que regulamenta a produção e venda de diversos produtos nos Estados Unidos– afirma que as quantidades de chumbo encontradas em maquiagens são pequenas demais para causar danos.
“É a dose que faz o veneno”, disse Langerman, parafraseando o médico renascentista Paracelso. “Uma dose baixa mata as bactérias. Numa dose alta, a quantidade absorvida é demais”.