Governo do Rio usará canais e riachos como redes de esgoto;
especialistas criticam medida
28 de outubro de 2008 | Autor: antonini
Poupem os protestos, Srs. Especialistas e
Ecologistas. O (dês)governo carioca, como qualquer outro, está apenas
oficializando o emporcalhamento ambiental.
Rafaella Javoski*
Do UOL Notícias
No Rio de Janeiro
Devido à falta de rede de saneamento básico em comunidades de maior
aglomeração na cidade, como as favelas, o governo do Rio de Janeiro
anunciou que vai priorizar investimentos em um sistema conhecido como
saneamento de tempo seco. Em vez de construir as tubulações do
saneamento convencional, o governo vai jogar o esgoto em canais e
riachos destas comunidades e bombeá-lo para pequenas estações de
tratamento nas localidades. O nome “tempo seco” refere-se à
impossibilidade de usar o sistema em dias de chuva, pois com o aumento
do volume de água, o esgoto transbordaria.
Segundo nota da Secretaria do Ambiente, “a tecnologia possibilita uma
melhora na qualidade da água de lagoas, baías e praias”. A secretária
estadual do Ambiente, Marilene Ramos, anunciou que o Estado vai espalhar
captações pelos rios e canais que desembocam nas lagoas da Barra e de
Jacarepaguá. Estão previstas intervenções nos canais das Taxas e do
Cortado, no Arroio Pavuna e no rio do Anil. Serão projetadas captações
no entorno da Baía de Guanabara – em Itaboraí, São Gonçalo, Caxias e
Nova Iguaçu. A previsão é que o Estado entregue as captações de tempo
seco em cerca de um ano e meio.
Especialistas ouvidos pelo UOL criticaram a iniciativa do Estado. O
engenheiro químico Gandhi Giordano acredita que a captação de tempo seco
é uma alternativa “completamente equivocada”. Para ele, a saída é a
urbanização das favelas e a instalação de um sistema de esgoto formal.
“Isso é para aumentar estatística e a taxa de esgoto coletado. Não vai
resolver nada. Nós pagamos caro, é para fazer tratamento bem feito”,
queixou-se.
A geógrafa Ana Lúcia Nogueira Brito alega que a prioridade do governo e
da Secretaria do Ambiente deveria ser a recuperação de estações de
tratamento que já existem, mas não operam. Segundo Brito, há três delas
no município de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. “Não é melhor
colocar essas para funcionar?”, questiona. Ela repreende ainda a falta
de três itens: projetos das estações de tratamento dos rios; recursos
para construir e a garantia de que a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos
do Rio de Janeiro) vai assumir o compromisso. “A Cedae não opera as que
existem hoje de maneira adequada. Essa é uma solução temporária e
precária”, criticou a geógrafa.
Já o doutor em Oceanografia Química e professor da UFF (Universidade
Federal Fluminense), Júlio César Wasserman, concorda parcialmente com o
sistema. “Não é a solução ideal, mas é melhor que não ter tratamento
nenhum”, defende. Para Wasserman, a melhor solução seria a canalização
do esgoto em toda a cidade e o professor culpa os políticos pela
ausência desse sistema. “O cano fica embaixo da terra, o eleitor não vê,
ele não pode inaugurar e não ganha voto. O prejuízo é muito maior que
uma rua não asfaltada, mas essa aparece”.
A Secretaria do Ambiente afirma que o projeto é considerado uma solução
emergencial para melhorar a qualidade da água a tempo de realizar os
Jogos Olímpicos de 2016. E admite que “o novo saneamento não pode ser
considerado solução final para o tratamento de esgoto, e sim
complementar, à espera da instalação futura de uma rede de esgoto”.
Em entrevista ao “O Globo”, a secretária Marilene Ramos afirmou que o
Estado terá uma verba de cerca de R$ 100 milhões no ano que vem para
realizar obras de saneamento convencional. “Investiremos, sim, em
sistemas de tempo seco, mas sem esquecer do convencional, que separa o
esgoto da galeria pluvial”, disse. O UOL não conseguiu localizar a
secretária para comentar o assunto.
* Colaborou o UOL Notícias, em São Paulo