O que aprender com Israel?
22 de agosto de 2013 | Autor: antonini
Há algo que me intriga há algum tempo: o que leva
um país com apenas 7,9 milhões de habitantes (o Paraná tem 10,4
milhões), um território minúsculo (menor que o estado de Sergipe),
terras ruins, sem recursos naturais, com apenas 64 anos de existência, e
em constantes conflitos militares… a ser um dos maiores centros de
inovação do mundo; ter 63 empresas de tecnologia listadas na bolsa
Nasdaq (mais que Europa, Japão, China e Índia somados), ter registrado
7.652 patentes no exterior entre 2002 e 2005, e ter ganho 31% dos
prêmios Nobel de Medicina e 27% dos Nobel de Física?
Por: José Pio Martins*
Em resumo: o que explica o extraordinário desenvolvimento econômico e
tecnológico de Israel? Pela lista de carências e problemas citados no
parágrafo anterior, Israel tinha tudo para ser apenas mais um país
atrasado e miserável. Mas, além de não ser, o país transformou-se em um
caso único de inovação, tecnologia e desenvolvimento. Muitas das
maravilhas que usamos hoje vêm de lá. O pen-drive, a memória flash de
computador e muitos medicamentos que salvam vidas estão na lista de
patentes de Israel.
Qualquer explicação rápida é leviana. Muitos dirão que é o dinheiro dos
norte-americanos e dos judeus espalhados pelo mundo que faz o sucesso de
Israel. Não é. Primeiro, porque nenhuma montanha de dinheiro transforma
uma nação de atrasados e ignorantes em gênios da inovação e ganhadores
de prêmios Nobel. Segundo, grande parte do dinheiro recebido por Israel
foi gasta em defesa e conflitos militares. Terceiro, o apadrinhamento
militar de Israel nos primeiros anos de sua fundação não foi dado pelos
Estados Unidos, mas pela França, cujo apoio cessou somente em 1967, após
a Guerra dos Seis Dias.
Nos artigos e livros que pesquisei, não há explicação simplista para o
sucesso de Israel. Pelo espaço limitado deste artigo, destaco apenas
quatro pontos:
Em primeiro lugar, a história e a cultura. A religião judaica dá ênfase
à leitura e à aprendizagem, mais que aos ritos. A perseguição aos judeus
e a proibição, durante a Idade Média, de possuírem terras os levou a
estudar e se tornarem médicos, banqueiros ou outras profissões que
pudessem ser exercidas em qualquer lugar.
Depois vem o apreço pela tecnologia e pela inovação. Israel gasta 4,5%
de seu produto bruto em pesquisa e desenvolvimento, contra 2,61% dos
Estados Unidos e 1,2% do Brasil. Na ausência de recursos naturais e
premido pela necessidade, Israel entrou de cabeça numa cultura de
pesquisar, descobrir e inovar.
Em terceiro lugar, a estrutura educacional. A crença de que a única
saída para o desenvolvimento – mais que os recursos naturais – é a
educação de qualidade está na raiz da cultura de Israel. Do ensino
básico até a universidade, Israel desfruta de uma educação de nível e
acessível a todos. Se você pensa encontrar um judeu analfabeto, desista.
É uma questão cultural: para eles, povo e governo, a educação é o bem
maior.
E, por fim, o respeito pelo empreendedor e pelo fracasso. Em Israel,
valoriza-se muito aquele que se dispõe a inventar, inovar ou empreender.
Quem tenta e fracassa é respeitado e apoiado, pois eles acreditam que a
falência é um aprendizado e a chance de acertar da próxima vez aumenta.
Isso leva a uma ausência de medo do fracasso e é um elemento-chave da
cultura da inovação. No Brasil, o desgraçado que falir uma microempresa
nunca mais consegue uma certidão negativa e jamais volta a ser
empreendedor.
Não se consegue transpor a cultura de um país para outro, mas há muito
que aprender com Israel.
*
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade
Positivo – Curitiba, Paraná.