A bravata de Pettenkofer


Quando Koch apresentou o resultado de sua pesquisa com o cólera morbus, um cientista chamado Pettenkofer realizou a bravata que o tornou célebre, ao referir-se aos meios de cultura em forma de caldo contendo vibriões: “Então o senhor garante que esse caldo de bacilos me matará se eu o tomar? Perguntando e girando entre os dedos um tubo de ensaio contendo um caldo amarelo. O Dr. Koch respondeu muito sério: a dose contida no tubo era suficiente para matar de cólera meio batalhão de granadeiros. E então, para o espanto dos membros da Academia Imperial de Medicina, em Berlim, onde a cena se desenrolava, o Professor Pettenkofer tomou um pequeno pedaço de pão que levava consigo, derramou-lhe por cima o caldo do tubo e comeu.

“Pois lhe garanto, caro Dr. Koch, que vou até engordar com estes inofensivos bacilos”, riu Pettenkofer. “Os bacilos não causam doença nenhuma. Pega-se uma doença porque se está predisposto a ela. Os bacilos nada têm a ver com isso”.

O fato é que Pettenkofer nunca pegou cólera, nem demonstrou sintoma algum da doença. E, sempre que se encontrava com Koch, arreliava-o de bom humor: “Muito bons seus bacilos, Dr. Koch. Ótimos para o chá das cinco com torradas”.

A corajosa (ou inconsciente) demonstração de Pettenkofer convenceu muita gente de que os bacilos não tinham nada a ver com a causa da cólera. Com seu riso irônico e bem-humorado, Pettenkofer ia e vinha entre os médicos, dizendo “Ora, os bacilos”. E sua boa saúde testemunhava por ele. Mas o fato é que ele não tinha razão: Koch fizera uma descoberta fundamental na história das ciências da saúde. Apenas, como se demonstraria depois, nem todas as pessoas são sensíveis a qualquer doença, a qualquer hora.

Existem resistências naturais e adquiridas por imunização, que defendem as pessoas dos microscópicos e onipresentes causadores das moléstias e Pettenkofer era resistente ao bacilo da cólera. A história se encarregou de provar que este estava enganado, apesar de sua coragem. Coragem que não era, não é, e jamais será rara entre os cientistas. Vários deles se auto-inocularam para provar suas hipóteses, e muitos morreram nos anos heróicos da bacteriologia.

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